Outro dia, fui a um restaurante e lá estava ela: a defensora oficial da saúde na mesa ao lado, arrancando aquela gordurinha da picanha como se estivesse lidando com uma arma letal. E, enquanto jogava a gordura fora, devorava uma generosa porção de batata frita com queijo ralado e sal. Na boa, às vezes eu acho que esse terrorismo nutricional virou um esporte nacional.
A gente vive numa era onde qualquer um com Wi-Fi vira especialista em nutrição. Parece que as redes sociais estão dominadas por uma batalha de “nutrólogos de Instagram”, cada um mais convicto que o outro. Eu até entendo o pessoal que quer ser saudável, quer viver mais, mas essa confusão me dá é dor de cabeça. A pergunta que me faço é: afinal, quem tá certo?
Você toma Coca Zero e já aparece alguém dizendo que isso é veneno, que o adoçante vai te corroer por dentro. Aí você pensa: “Ok, então vou de suco de laranja”. Mas, opa, pera aí! Alguém já vem logo te avisar que a frutose vai ferrar com o seu fígado! Mas, pera lá, a fruta não era saudável? Que fruta, que nada, agora é a vilã!
É tanto protocolo, tanta teoria, que a gente fica igual a meme: sem saber se toma café ou se faz meditação. A manteiga é melhor que a margarina, mas o óleo de coco é o campeão de todos. Só que, pera aí, disseram que o óleo de coco também não é mais a bola da vez. É bom ou não é? Se for tomar sol com óleo de coco, pelo menos você sai com o cheiro de pipoca!
E a moda da vez: “corta o glúten, corta a lactose, corta o açúcar, corta tudo”! Ok, você corta tanto que um dia, ao comer uma fatia de bolo, você desmaia. Aí, na volta do hospital, descobre que não é o açúcar que te mata, mas o terrorismo psicológico que ele te causa.
Outro dia, meu cardiologista disse que anda encaminhando muita gente pro nefrologista por causa do excesso de whey protein. Excesso de proteína, excesso de suplemento, excesso de tudo. Parece que a gente perdeu a noção do equilíbrio. O que era pra ser saudável virou paranoia. Ortorexia nervosa, já ouviu falar? Pois é, tem gente que só come o que considera saudável, e essa fixação tá levando todo mundo pra terapia.
E o colesterol, hein? Um diz que vai entupir suas veias, o outro jura que é o mal entendido da vez. Sabe, até os médicos estão confusos. Medicina baseada em evidências? É um conceito lindo, mas até dentro dela tem briga. Cada estudo novo parece contrariar o anterior.
O problema é que a gente, o pobre mortal, tenta ser saudável, mas no meio de tanta informação desencontrada, acaba é perdendo o prazer de comer. Aquele que era pra ser o momento de curtir a comida, se tornou uma prova de resistência emocional.
Sabe o que eu acho? A gente tem que parar de ouvir tanto essa gritaria e voltar ao básico: o bom e velho equilíbrio. Sem paranoia. Comer sem culpa. Porque, no final das contas, a vida não é feita só de proteína magra e gorduras boas. Ela é feita de prazer, de risadas e, por que não, de uma bela fatia de picanha.
Concordo em gênero, número e grau. A ditadura da boa aparência e da saúde dez está matando mais do que a alegria de viver livre, leve e solto. A lógica nos aconselha a não radicalizar em nada. O certo, pra mim, é seguir a voz de quem, copiando Gonzaguinha, grita:”viver é não ter vergonha de ser feliz”. Sejamos felizes então, e comer é um momento de felicidade até inexplicável.
Valeu Edgard.